Nos últimos anos, o Brasil acompanhou a transformação global rumo a uma matriz energética mais limpa e diversificada, fator que reconfigura o planejamento de estradas, ferrovias, portos e centros urbanos. A expansão acelerada da oferta elétrica não apenas fortalece a segurança do sistema, mas também exige novos investimentos em infraestrutura integrada, mobilizando setores públicos e privados em torno de projetos de longo prazo, tecnologias emergentes e políticas de incentivo.
De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a capacidade instalada do país deve aumentar em impressionantes 9,95 GW em 2025, quase igualando recordes de anos anteriores. No primeiro trimestre, foram ativados 1.742 MW distribuídos por todas as regiões, elevando a capacidade total das usinas centralizadas a 208,9 GW. Esse ritmo recorde demonstra a maturidade do mercado nacional e acentua a transição para fontes renováveis.
Entre janeiro e março, cada tecnologia apresentou desempenho relevante:
Estados como Mato Grosso do Sul (384 MW), Minas Gerais (336,8 MW), Bahia e Maranhão lideraram a expansão, refletindo a descentralização dos investimentos. Esse movimento aquece a economia local, cria empregos e reduz perdas de energia, mas também pressiona redes e centros de distribuição, exigindo planejamento integrado.
Para viabilizar essa oferta, o Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE) 2034 propõe R$ 128,6 bilhões em linhas de transmissão, R$ 116,6 bilhões em geração distribuída e mais R$ 39 bilhões destinados à substituição de ativos antigos. A previsão de expansão de 30 mil km em linhas de transmissão supera em 20% o que foi realizado no último ciclo, sinalizando o compromisso com a robustez do sistema.
Além dos recursos previstos, leilões periódicos do governo e da EPE mitigam riscos contratuais e garantem prazos mais curtos. Modelos de Parceria Público-Privada (PPP) e concessões reguladas têm atraído investidores internacionais, fortalecendo a segurança jurídica e estimulando a inovação em construção e manutenção.
Essas iniciativas promovem não só a integração eficiente de energias renováveis, mas também maior resiliência do sistema diante de eventos climáticos extremos. Soluções de armazenamento evitam desperdícios e proporcionam flexibilidade ao despacho, enquanto hubs de hidrogênio geram oportunidades em setores industriais e de transporte.
Projetos de P&D, apoiados por agências de fomento, visam reduzir custos de equipamentos e viabilizar soluções off-grid em comunidades isoladas, fortalecendo o princípio de energia limpa e acessível para todos.
Atualmente, processos junto a órgãos como IBAMA e ANA podem levar anos, retardando obras de médio porte. Além disso, a escassez de financiamentos específicos para renováveis e a instabilidade na remuneração de energia comprometem a atratividade de empreendimentos inovadores.
Para superar esses entraves, especialistas defendem a criação de janelas regulatórias simplificadas, a redução de garantias contratuais excessivas e a oferta de linhas de crédito de longo prazo, possibilitando o acesso de pequenos investidores e startups ao setor energético.
A integração de localidades remotas ao Sistema Interligado Nacional (SISOL) beneficia cerca de 3,1 milhões de pessoas, especialmente em áreas rurais e quilombolas. O acesso à energia limpa e acessível promove desenvolvimento local, melhora indicadores de saúde e educação, e fomenta atividades produtivas, desde agroindústrias até turismo ecológico.
Em termos ambientais, a modernização de linhas e subestações reduz perdas técnicas e evita a emissão de até 57 MtCO₂eq com a substituição de termelétricas a gás. Tecnologias como Dynamic Line Rating permitem ganhos anuais de R$ 76 milhões apenas na transmissão, diminuindo custos de operação e a pegada de carbono do setor.
Investimentos em infraestrutura energética também atraem indústrias de alta intensidade tecnológica e aceleram o fluxo de investimentos estrangeiros, consolidando o Brasil como polo de inovação em energias renováveis.
As projeções indicam que, até 2034, o Brasil pode triplicar a capacidade de geração distribuída e elevar a participação das renováveis para mais de 85% na matriz. Para isso, é fundamental alinhar políticas públicas, incentivos fiscais e programas de capacitação, garantindo modernização do setor e digitalização de ponta a ponta.
A descentralização do planejamento, com maior autonomia estadual e diálogo com comunidades locais, facilita a implantação de projetos e reduz conflitos territoriais. Simultaneamente, é crucial estabelecer metas claras de redução de emissões alinhadas ao Acordo de Paris, reforçando o compromisso brasileiro em fóruns internacionais.
Somente com uma visão integrada—unindo inovação, desburocratização e financiamento atraente—o país consolidará um ciclo virtuoso de crescimento sustentável. Esse esforço conjunto não só transformará a infraestrutura nacional, como também deixará um legado de prosperidade e qualidade de vida para as próximas gerações.
Referências