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Empresas familiares investem em governança para atrair capital

Empresas familiares investem em governança para atrair capital

14/03/2025 - 23:47
Maryella Faratro
Empresas familiares investem em governança para atrair capital

As empresas de base familiar têm buscado cada vez mais estruturas sólidas de governança para se posicionar como organizações confiáveis e atrair capital de investidores institucionais e estrangeiros.

Panorama das Empresas Familiares

Em países como Brasil e várias nações europeias, as empresas familiares representam a forma predominante de estrutura empresarial, respondendo por parcela expressiva do PIB e da geração de empregos diretos e indiretos.

Apesar dessa relevância, elas enfrentam desafios típicos, como sucessão entre gerações, divergência de interesses e a delicada tarefa de separar as dinâmicas familiares das decisões de negócio.

Dados recentes indicam que mais de 60% das companhias familiares não chegam à terceira geração, sobretudo por falta de planejamento estratégico e ausência de mecanismos formais de gestão.

O papel da governança corporativa

Para enfrentar esses obstáculos, muitas organizações têm apostado na profissionalização e sustentabilidade da empresa, adotando práticas que trazem maior clareza e disciplina aos processos decisórios.

As principais razões que impulsionam esse movimento incluem a necessidade de:

  • Minimizar conflitos internos e assegurar alinhamento de interesses;
  • Ampliar a credibilidade frente a investidores e ao mercado;
  • Estabelecer processos claros para entrada e saída de sócios;
  • Garantir a continuidade e a longevidade do negócio.

Entre os instrumentos e práticas mais adotados estão:

  • Implementação de acordos de sócios que regulem as relações e definam poderes, quóruns e regras de preferência.
  • Constituição de conselhos de administração ou consultivos com membros independentes, promovendo imparcialidade.
  • Elaboração de protocolos de família, documento que estabelece princípios e valores para prevenindo conflitos interpessoais entre membros familiares.
  • Formação de conselhos de família dedicados às questões pessoais, separados das decisões de negócios.

Essas iniciativas não apenas formalizam as relações societárias, mas também criam um ambiente de maior transparência, responsabilidade e credibilidade junto a stakeholders.

Atração de Investidores e Captação de Capital

Investidores institucionais, fundos privados e grupos estrangeiros valorizam empresas que ofereçam redução de riscos na gestão e mecanismos de tomada de decisão previsíveis.

Quando as regras e processos internos estão claramente definidos, o valuation tende a subir, pois o negócio passa a ser percebido como um ativo mais seguro e com governança profissional.

Exemplos práticos mostram que companhias familiares listadas em bolsas como NYSE e Lima elevaram substancialmente sua atratividade após adotar um governo corporativo robusto e eficaz.

Internacionalização e acesso ao mercado de capitais

Uma das estratégias mais impactantes é o IPO (oferta pública inicial), que exige:

  • Transparência total das informações financeiras e operacionais.
  • Auditoria independente e compliance reforçado.
  • Separação clara entre propriedade e gestão, com conselhos de administração formados por executivos externos.

Apesar do rigor imposto pelo mercado de capitais, muitas famílias mantêm o controle acionário utilizando classes diferentes de ações ou estruturas societárias específicas.

Além disso, ao abrir capital, há a atração de executivos de mercado que impulsionam ainda mais a profissionalização e sustentabilidade da empresa.

Dados e Cases

O case da Ferreyros, no Peru, ilustra bem essa transformação: a transição da primeira para a segunda geração foi marcada pela contratação de gestores externos, resultando em aumento de investimentos e expansão em novos mercados.

No Brasil e na América Latina, empresas como Grupo BMG e São Martinho relatam que, mesmo sem pretenderem listagem imediata, a estruturação de conselhos consultivos e protocolos de família acelerou processos de sucessão e tornou o negócio mais atrativo para parcerias estratégicas.

Relatórios de grandes consultorias mostram que companhias com práticas de governança implementadas costumam obter redução de até 20% no custo médio ponderado de capital (WACC), refletindo menor percepção de risco pelos investidores.

Desafios e tendências

Embora os benefícios sejam claros, a jornada de adoção de governança corporativa enfrenta barreiras:

O principal deles é a gestão de interesses conflitantes entre membros com diferentes visões de longo prazo.

Outro ponto crítico é a comunicação eficaz, pois a introdução de executivos externos pode gerar resistências culturais. No entanto, com estruturas bem definidas, tornam-se possíveis fluxos de decisão mais rápidos e baseados em méritos.

Entre as tendências para os próximos anos está o uso de tecnologias digitais para monitoramento em tempo real de métricas de desempenho, bem como a inclusão de políticas de ESG (Environmental, Social and Governance), reforçando a imagem de compromisso com sustentabilidade socioambiental.

Conclusão: Valor da Governança

Empresas familiares que investem em governança colhem ganhos expressivos em avaliação de mercado, resiliência frente a crises e facilidade na captação de recursos a custos mais competitivos.

Ao alinhar interesses de família, gestão e investidores, a governança corporativa se torna um diferencial estratégico de longo prazo.

Portanto, estruturar acordos de sócios, conselhos consultivos e protocolos internos não é apenas uma atitude recomendada, mas uma necessidade para quem deseja perpetuar o negócio e aproveitar novas oportunidades de crescimento.

Maryella Faratro

Sobre o Autor: Maryella Faratro

Maryella Faratro