As empresas de base familiar têm buscado cada vez mais estruturas sólidas de governança para se posicionar como organizações confiáveis e atrair capital de investidores institucionais e estrangeiros.
Em países como Brasil e várias nações europeias, as empresas familiares representam a forma predominante de estrutura empresarial, respondendo por parcela expressiva do PIB e da geração de empregos diretos e indiretos.
Apesar dessa relevância, elas enfrentam desafios típicos, como sucessão entre gerações, divergência de interesses e a delicada tarefa de separar as dinâmicas familiares das decisões de negócio.
Dados recentes indicam que mais de 60% das companhias familiares não chegam à terceira geração, sobretudo por falta de planejamento estratégico e ausência de mecanismos formais de gestão.
Para enfrentar esses obstáculos, muitas organizações têm apostado na profissionalização e sustentabilidade da empresa, adotando práticas que trazem maior clareza e disciplina aos processos decisórios.
As principais razões que impulsionam esse movimento incluem a necessidade de:
Entre os instrumentos e práticas mais adotados estão:
Essas iniciativas não apenas formalizam as relações societárias, mas também criam um ambiente de maior transparência, responsabilidade e credibilidade junto a stakeholders.
Investidores institucionais, fundos privados e grupos estrangeiros valorizam empresas que ofereçam redução de riscos na gestão e mecanismos de tomada de decisão previsíveis.
Quando as regras e processos internos estão claramente definidos, o valuation tende a subir, pois o negócio passa a ser percebido como um ativo mais seguro e com governança profissional.
Exemplos práticos mostram que companhias familiares listadas em bolsas como NYSE e Lima elevaram substancialmente sua atratividade após adotar um governo corporativo robusto e eficaz.
Uma das estratégias mais impactantes é o IPO (oferta pública inicial), que exige:
Apesar do rigor imposto pelo mercado de capitais, muitas famílias mantêm o controle acionário utilizando classes diferentes de ações ou estruturas societárias específicas.
Além disso, ao abrir capital, há a atração de executivos de mercado que impulsionam ainda mais a profissionalização e sustentabilidade da empresa.
O case da Ferreyros, no Peru, ilustra bem essa transformação: a transição da primeira para a segunda geração foi marcada pela contratação de gestores externos, resultando em aumento de investimentos e expansão em novos mercados.
No Brasil e na América Latina, empresas como Grupo BMG e São Martinho relatam que, mesmo sem pretenderem listagem imediata, a estruturação de conselhos consultivos e protocolos de família acelerou processos de sucessão e tornou o negócio mais atrativo para parcerias estratégicas.
Relatórios de grandes consultorias mostram que companhias com práticas de governança implementadas costumam obter redução de até 20% no custo médio ponderado de capital (WACC), refletindo menor percepção de risco pelos investidores.
Embora os benefícios sejam claros, a jornada de adoção de governança corporativa enfrenta barreiras:
O principal deles é a gestão de interesses conflitantes entre membros com diferentes visões de longo prazo.
Outro ponto crítico é a comunicação eficaz, pois a introdução de executivos externos pode gerar resistências culturais. No entanto, com estruturas bem definidas, tornam-se possíveis fluxos de decisão mais rápidos e baseados em méritos.
Entre as tendências para os próximos anos está o uso de tecnologias digitais para monitoramento em tempo real de métricas de desempenho, bem como a inclusão de políticas de ESG (Environmental, Social and Governance), reforçando a imagem de compromisso com sustentabilidade socioambiental.
Empresas familiares que investem em governança colhem ganhos expressivos em avaliação de mercado, resiliência frente a crises e facilidade na captação de recursos a custos mais competitivos.
Ao alinhar interesses de família, gestão e investidores, a governança corporativa se torna um diferencial estratégico de longo prazo.
Portanto, estruturar acordos de sócios, conselhos consultivos e protocolos internos não é apenas uma atitude recomendada, mas uma necessidade para quem deseja perpetuar o negócio e aproveitar novas oportunidades de crescimento.
Referências