Em 2025, o Brasil se encontra em um ponto de inflexão, em que as decisões políticas e econômicas se entrelaçam de forma inédita. O próximo pleito eleitoral assume papel protagonista na formação das expectativas de mercado e no comportamento do consumidor. Nesta conjuntura, a ansiedade dos investidores, a mobilização social e a pressão internacional convergem para um cenário de intensa volatilidade, em que cada anúncio de programa social ou ajuste fiscal é interpretado como um sinal determinante do futuro próximo.
As eleições presidenciais de 2026 já influenciam as escolhas do governo e dos parlamentares, refletindo-se em medidas de curto prazo que buscam equilibrar a popularidade com as demandas por responsabilidade fiscal. A incerteza espalha-se pelas praças financeiras, mas também acende debates sobre a melhor forma de conciliar crescimento, equidade e sustentabilidade. Neste artigo, analisamos os principais dados macroeconômicos, as projeções de crescimento e inflação, as manobras de política fiscal e os desafios que se avizinham, especialmente no delicado período de transição até o ano eleitoral.
Com a dívida pública próxima a 80% do PIB e crescendo a um ritmo acelerado, o governo enfrenta o dilema de manter recursos disponíveis para estimular a economia ou reduzir a pressão sobre as contas do Estado. A projeção de alta para 85,9% até 2026 impõe limitações severas para novas contratações e para a estruturação de programas de longo prazo. Esse indicador, associado a gráficos que apontam uma curva ascendente, reflete preocupações profundas acerca da estabilidade econômica.
Da mesma forma, a taxa Selic, hoje em 12,25% ao ano, está sob constante escrutínio. Há expectativa de elevação para 14,25% em março de 2025, e alguns analistas não descartam um patamar de 15% até meados do ano, caso a inflação persista. Esse endurecimento monetário busca conter pressões inflacionárias, mas, ao mesmo tempo, pode sufocar o crédito e desacelerar investimentos. O Banco Central, por sua vez, equilibra a dualidade de conter a escalada de preços e manter o apetite por financiamentos.
Paralelamente, o déficit público nominal projetado em 9% do PIB para 2025 sinaliza a urgência de alternativas que reduzam o espaço para novos gastos. Sem reformas estruturais profundas, esse desequilíbrio tende a se agravar, alimentando a percepção de risco dos credores internacionais e das agências de rating. O desafio reside em encontrar uma combinação que satisfaça exigências fiscais e preserve um ambiente propício para o desenvolvimento econômico.
Para o ano de 2025, o crescimento do PIB é estimado entre 2% e 2,3%, conforme os relatórios do Banco Central e de instituições privadas. Embora 2024 tenha surpreendido positivamente com um avanço de 3,5%, acima do potencial de 2,5%, há sinais de desaceleração gradativa, especialmente se as condições externas se mantiverem adversas ou se o aperto monetário for mais intenso. O segundo semestre, em particular, pode registrar um leve arrefecimento, caso o mercado de trabalho não apresente a mesma dinâmica de geração de empregos do início do ano.
Além disso, a inflação, que se situou em 4,8% no último ciclo, pode acelerar até 7,2% em 2025. As pressões fiscais, a desvalorização de 27% do Real e a dependência de importações de produtos essenciais conspiram para uma alta nos preços. Apesar de a política monetária mais rígida poder moderar os aumentos, a atuação do câmbio e dos choques externos ainda impõe desafios significativos à meta de inflação estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional.
O mercado de trabalho, por outro lado, mostra resiliência. Incentivos à contratação formal, programas sociais que ampliam a renda disponível e a expansão do crédito habitacional reforçam a confiança dos consumidores. No entanto, a sustentabilidade desse ritmo de geração de vagas depende diretamente das decisões de investimento e da saúde financeira das empresas, sobretudo em setores intensivos em capital.
Em resposta ao quadro fiscal e à necessidade de apoio político, o governo lançou diversos programas que atuam simultaneamente como busão e freio para a economia. Essas iniciativas buscam sustentar o consumo, aquecer o mercado de crédito e criar uma imagem de conforto social em um período de forte disputa eleitoral.
Cada um desses programas funciona como instrumentos de política eleitoral, garantindo suporte imediato ao orçamento familiar e criando vínculos de dependência política. No entanto, sem contrapartidas de longo prazo, essas medidas podem não se traduzir em ganhos sustentáveis de produtividade ou em redução significativa da pobreza estrutural.
O arcabouço fiscal de 2024, que prometia conter gastos e estabelecer regras mais rígidas, mostrou-se insuficiente. A incapacidade de estabilizar a relação dívida/PIB alimentou a pressão sobre o câmbio, elevando o custo de importação e exigindo que o Banco Central atuasse vigorosamente no mercado de câmbio. A venda de mais de US$ 30 bilhões em reservas não evitou a fuga cambial recorde de US$ 28,9 bilhões em dezembro de 2024, o que pressiona a inflação ainda mais.
O adiamento de ajustes estruturais em virtude do calendário eleitoral traz riscos significativos para o médio prazo. Ao postergar reformas essenciais, como previdenciária e tributária, o governo abre espaço para desequilíbrios que podem se agravar rapidamente, especialmente se não houver aumento de receitas ou contenção de despesas.
A perda de receita com a derrubada do aumento do IOF, estimada em R$ 10 bilhões para 2025, agrava a pressão orçamentária e força o governo a buscar soluções paliativas, como a concessão de direitos sobre o pré-sal e a distribuição de lucros de estatais. Essas manobras, porém, dificilmente resolvem o problema de forma definitiva, e deixam uma herança de incerteza para o próximo ciclo político.
A tabela a seguir sumariza os principais indicadores que guiam as expectativas de mercado. A leitura atenta desses números pode ser a bússola para investidores e gestores ao traçarem estratégias de atuação no médio prazo.
No plano internacional, a possível reeleição de Donald Trump nos Estados Unidos e o recrudescimento de políticas tarifárias criam um ambiente protecionista que afeta cadeias de valor globais. Por outro lado, o Brasil pode se beneficiar da exportação diversificada de commodities, sobretudo em setores como agronegócio e mineração, em que a guerra comercial entre EUA e China favorece o reforço das exportações brasileiras.
Contudo, a volatilidade gerada por choques externos exacerba a insegurança para investidores estrangeiros, que se mostram mais cautelosos ao avaliar a exposição cambial e a liquidez local. Esse cenário aumenta o custo de captação e pressiona o câmbio, impondo ao Banco Central a necessidade de intervenção constante.
Em um ambiente onde se torna quase impossível adotar medidas austeras antes do pleito, a tendência é de manutenção de políticas expansionistas até o final de 2025. O governo, imbuído de um otimismo cauteloso e vigilante, tende a maximizar ações de curto prazo para sustentar a popularidade.
A partir de 2026, a forte pressão por ajustes poderá criar um choque de confiança, dependendo do resultado eleitoral e do compromisso dos próximos governantes com a sustentabilidade fiscal de longo prazo. A capacidade de honrar compromissos e de implementar reformas será testada imediatamente após a posse, definindo o rumo da economia brasileira nos anos seguintes.
Para profissionais, empresários e cidadãos, fica o desafio de acompanhar de perto não apenas os indicadores oficiais, mas também as propostas de modificações estruturais. A conjunção de análise rigorosa, participação ativa no debate público e planejamento estratégico poderá transformar a incerteza eleitoral em oportunidades de crescimento estável e inclusivo.
Referências