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O mercado brasileiro atrai fundos globais de private equity

O mercado brasileiro atrai fundos globais de private equity

06/04/2025 - 17:11
Robert Ruan
O mercado brasileiro atrai fundos globais de private equity

O Brasil, com sua dimensão continental e múltiplos setores em expansão, tem se destacado como destino de interesse para fundos de private equity ao redor do mundo. Apesar de um período recente de retração, o cenário atual sinaliza grandes oportunidades de recuperação e um ambiente fértil para investidores dispostos a explorar as particularidades do mercado nacional.

Panorama Atual do Mercado de Private Equity no Brasil

Em escala global, o valor de transações de private equity e venture capital está projetado para crescer 18% em 2024, segundo dados da Dealogic. No Brasil, entretanto, entre janeiro e maio de 2024, os aportes somaram R$ 5,4 bilhões, refletindo uma queda de 19,4% comparada ao mesmo período de 2023 (TTR Data).

O ano de 2023 registrou 64 transações até setembro, totalizando R$ 14,1 bilhões; em 2024, até o mesmo mês, foram apenas 51 operações, com R$ 8,7 bilhões investidos. No acumulado de 2023, o volume ultrapassou R$ 23,9 bilhões (ABVCAP). Esses números ilustram uma fase de retração alinhada ao cenário global, mas também apontam para um acúmulo de recursos em busca de alocação.

Esse volume expressivo de dry powder aguardando alocação indica que muitos fundos ainda estão na fase de due diligence, preparando-se para acelerar o ritmo de deals a partir do segundo semestre de 2024, com expectativa de retomada plena em 2025.

Motivos para a Atratividade do Mercado Brasileiro

Um conjunto de fatores macro e microeconômicos tem colocado o Brasil no radar de gestores globais:

  • Expectativa de queda nos juros: a Selic projetada em 9,25% para 2025 torna o custo de capital mais competitivo.
  • Cenário de inflação controlada: projeção de IPCA em 3,78% para 2025, apontando para estabilidade macro.
  • Oportunidades em energia e sustentabilidade: teses de investimento em transição energética e ESG atraem aportes internacionais.
  • Revisão de cadeias globais: tensões comerciais elevadas fazem do Brasil um destino estratégico para multinacionais.

Além disso, grandes bancos internacionais, como o Goldman Sachs, destacam o potencial de crescimento do país, especialmente se reformas estruturais avançarem, criando espaço para dobrar ou triplicar o tamanho da economia ao longo da próxima década.

Desafios e Obstáculos

Apesar das perspectivas otimistas, alguns entraves ainda concentram a atenção dos investidores:

  • Ausência de novos IPOs: desde 2022 a B3 não registra ofertas públicas relevantes, limitando as saídas tradicionais de fundos.
  • Liquidez reduzida no mercado de capitais: dificulta a realização de exits e pressiona retornos de longo prazo.
  • Taxas de juros persistentemente altas: encarecem a alavancagem e podem comprometer a escala de negócios das empresas investidas.
  • Valuations voláteis: o ambiente macroeconômico instável prolonga negociações e amplia gaps de expectativa entre compradores e vendedores.

Superar esses desafios requer paciência estratégica, uso de estratégias de reestruturação corporativa e busca por alternativas de saída, como vendas secundárias ou trade sales para players locais e regionais.

Regulação e Estrutura Jurídica do Private Equity

No Brasil, o principal veículo para investimentos em private equity é o FIP (Fundo de Investimento em Participações), regido pela Instrução CVM 578. Para cumprir as normas, os FIPs devem alocar pelo menos 90% de seu capital em ativos de companhias brasileiras, obedecer às exigências de governança e manter um conselho consultivo de cotistas.

Investidores estrangeiros também devem atender a regras do Banco Central e a obrigações tributárias locais, o que garante maior transparência e segurança jurídica. Essas salvaguardas têm sido percebidas como um diferencial para fundos preocupados com compliance e responsabilidade corporativa.

Tendências e Perspectivas para 2025

O horizonte para o próximo ano se mostra promissor, apoiado por algumas tendências-chave:

  • Aumento do apetite pós-diligência: o volume de análises em curso sugere um pipeline intenso de operações.
  • Ênfase em ESG e sustentabilidade: fundos buscam empresas com práticas ambientais e sociais sólidas.
  • Reestruturações como oportunidades: empresas em dificuldades demandam capital e gestão para virar a curva de resultados.
  • Setores resilientes em foco: saúde, tecnologia, infraestrutura e energia renovável lideram as estratégias de investimento.

Com a expectativa de juros em queda e estabilidade inflacionária, 2025 pode marcar o retorno de grandes operações e o lançamento de novos fundos específicos para o mercado brasileiro.

Como Participar e Aproveitar as Oportunidades

Para gestores e investidores interessados em capturar valor nesse momento, algumas práticas podem fazer a diferença:

  • Adotar análises de mercado customizadas para identificar setores menos explorados.
  • Estabelecer parcerias com players locais de confiança para otimizar due diligence e gestão pós-investimento.
  • Focar em melhoria de governança corporativa nas empresas-alvo, aumentando sua atratividade e valor de saída.

Além disso, acompanhar de perto possíveis reformas fiscais e regulatórias pode antecipar movimentos de mercado e posicionar fundos para capturar ganhos em ativos descontados.

Conclusão

O mercado brasileiro de private equity vive um momento de transição: ainda é cedo para falar em plena retomada, mas há sinais claros de que o capital disponível aguarda rentabilidades atrativas. Com gestão robusta e visão de longo prazo, investidores podem se posicionar de forma estratégica, aproveitando a combinação de juros em queda, estabilidade econômica e oportunidades estruturais em setores-chave.

Em um cenário global marcado por incertezas, o Brasil surge como um destino promissor, cuja diversidade de setores e força demográfica oferecem terreno fértil para quem deseja construir valor sustentável e retornos sólidos no médio e longo prazo.

Robert Ruan

Sobre o Autor: Robert Ruan

Robert Ruan