Nos últimos anos, a indústria automobilística mundial passou por uma transformação profunda em direção à eletrificação. A crescente preocupação com as mudanças climáticas, aliada ao avanço tecnológico, impulsionou montadoras, governos e consumidores a repensar o conceito de mobilidade. No Brasil, esse movimento ganha força e promete redesenhar a forma como nos deslocamos, investimos e sustentamos o setor automotivo.
O mercado de veículos elétricos no Brasil registrou um crescimento sem precedentes em 2024. De acordo com a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), foram vendidas 177.358 unidades eletrificadas, um salto de 89% em comparação a 2023. Se mantido esse ritmo, a frota de veículos 100% elétricos (BEV) e híbridos plug-in (PHEV) poderá ultrapassar 335.000 unidades em circulação já em 2025.
O surgimento de fábricas nacionais de marcas como BYD e GWM, previstas para iniciar produção local a partir de 2025, marca um ponto de inflexão para a indústria automobilística brasileira. Com isso, espera-se não apenas maior disponibilidade de modelos no mercado, mas também uma redução significativa nos custos de importação e distribuição.
A transição para a mobilidade elétrica movimentou R$ 594,3 bilhões na cadeia de eletromobilidade em 2024. Desse total, R$ 445,9 bilhões foram destinados à expansão da infraestrutura de recarga e R$ 85,4 bilhões em componentes para veículos eletrificados. Além dos investimentos nacionais, empresas internacionais como GM, Stellantis e BYD anunciaram aportes bilionários para ampliar plantas e desenvolver novas tecnologias no país.
O primeiro Anuário da Cadeia Produtiva da Eletromobilidade, organizado pela ABVE, destacou que mais de R$ 1 bilhão foi aplicado em pesquisa e inovação, consolidando o Brasil como um polo emergente em soluções de mobilidade elétrica.
O desenvolvimento de baterias com maior densidade energética e custo reduzido é um dos principais motores da popularização dos veículos elétricos. Espera-se que, já em 2025, modelos equipados com novas químicas de lítio ofereçam autonomia superior a 600 km, ao mesmo tempo em que o preço final se aproxima dos equivalentes a combustão.
Paralelamente, a integração de redes de carregamento em roaming e a instalação acelerada de estações de recarga rápida transformam a experiência do usuário. Na China, referência global, foram implementadas 11,88 milhões de estações em 2024, com um aumento de 49,4% em relação ao ano anterior. No Brasil, há previsão de R$ 6 bilhões em investimentos públicos e privados na malha de carregadores até 2025, contemplando rodovias e centros urbanos.
O Programa MOVER, sucessor do Rota 2030, oferece benefícios fiscais para veículos produzidos localmente, estimulando montadoras a investirem em plantas nacionais. A estratégia de neoindustrialização com transferência de tecnologia visa gerar empregos qualificados e consolidar o Brasil na cadeia global de eletromobilidade.
As ações governamentais estão alinhadas a iniciativas de baixo carbono mundial, em parceria com China e países da União Europeia, reforçando o compromisso brasileiro com a transição energética e a economia circular e sustentável.
A adoção massiva de veículos elétricos trará ganhos ambientais expressivos. A redução significativa de emissões de CO2 e a diminuição do ruído urbano contribuíram para melhorar a qualidade de vida nas grandes cidades. Além disso, o setor automotivo estimula a criação de empregos em novas áreas, desde startups de mobilidade até redes de serviço especializadas em recarga e manutenção de baterias.
Com a transformação estrutural da cadeia de valor, o Brasil se posiciona como protagonista na próxima revolução industrial de baixo carbono, atraindo investimentos e fomentando o desenvolvimento tecnológico local.
Para os motoristas, a principal vantagem é a economia de baixo custo operacional. Menores gastos com manutenção, isenção de alguns tributos e preços de recarga inferiores aos de combustíveis fósseis fazem do elétrico uma opção cada vez mais atrativa. A expansão da infraestrutura residencial e empresarial de carregamento facilita a adoção precoce por frotas corporativas e pessoas físicas.
Com a produção local prevista para modelos populares, entende-se que os preços dos automóveis elétricos se aproximem dos equivalentes a combustão já em meados de 2026, ampliando o acesso e consolidando o mercado interno.
Embora promissor, o cenário de eletromobilidade apresenta desafios significativos. A implantação de uma rede elétrica robusta, o estabelecimento de políticas de reciclagem e descarte de baterias e o financiamento de infraestrutura em áreas remotas ainda demandam esforços coordenados entre setor público e privado.
A mobilidade elétrica não é mais uma tendência, mas uma realidade irreversível que está redefinindo o setor automotivo brasileiro. Com avanços tecnológicos, investimentos robustos e políticas públicas alinhadas, o país tem todas as condições de liderar a transição para uma nova era da mobilidade sustentável.
Adotar veículos elétricos representa não apenas uma escolha individual, mas um compromisso coletivo com o futuro do planeta. A hora de acelerar essa transformação é agora, e o Brasil tem a oportunidade de conduzir esse movimento rumo a um ambiente mais limpo, seguro e inovador.
Referências