Em 2024 e 2025, o mercado brasileiro viveu um período de intensa instabilidade, com o Ibovespa protagonizando trajetórias de alta e baixa em curtos intervalos. Cada declaração de autoridade, cada projeção de déficit e cada movimento de reforma era aguardado como um divisor de águas para investidores de todos os perfis.
Nas ruas, o debate político reforçava a insegurança de agentes econômicos, enquanto nos pregões, a oscilação de milhares de pontos refletia o nervosismo. Em meio a esse turbilhão, surgem perguntas fundamentais: como navegar nesse mar de incertezas e quais estratégias podem trazer mais segurança sem abrir mão do potencial de ganho?
O ano de 2024 foi marcado por quatro meses consecutivos de queda em razão de anúncios de pacotes fiscais e da saída de capital estrangeiro. Entre especulações sobre a saúde das contas públicas e a escalada inflacionária, o índice chegou a renovar seu topo histórico em agosto, mas perdeu força rapidamente.
No fechamento de dezembro, o Ibovespa operava abaixo das médias móveis de 21 e 50 períodos, exibindo um viés corretivo acentuado. A alta da Selic, de 12,25% para 14,75%, e a projeção de déficit de R$ 88 bilhões reforçaram o sentimento de risco, pressionando gestores a reverem posições de risco.
Em 2025, o mercado apresentou um misto de otimismo e cautela. Até 4 de junho, o Ibovespa acumulava alta de 14,5% no ano, impulsionado pela entrada de capital estrangeiro e por valuations considerados atrativos. No entanto, oscilava fortemente, com quedas repentinas que lembravam ventos contrários em uma travessia marítima.
Cada um desses fatores atua de forma interligada: o déficit estimulado pela reforma fiscal gera dúvidas sobre a capacidade de honrar pagamentos, enquanto a Selic elevada encarece o crédito e restringe o consumo. No cenário externo, tensões em regiões produtoras de petróleo ampliam riscos para empresas do setor energético.
A valorização e desvalorização do dólar também criam um ciclo de receios e oportunidades. Exportadoras se beneficiam, mas companhias com passivos em moeda estrangeira sentem maior pressão sobre seus resultados trimestrais.
O Ibovespa atingiu 140.243,86 pontos em 13 de maio de 2025, estabelecendo um novo recorde, mas logo corrigiu para 136.813,20 pontos em junho. Movimentos de alta no início do ano deram lugar a sessões de estresse, em que 46 das 84 ações do índice recuaram no mesmo dia.
Enquanto isso, o dólar comercial, que começou 2025 em patamares elevados, recuou 3,77% em junho, trazendo alívio para companhias endividadas em moeda forte. Contudo, a oscilação cambial segue correlacionada às variações dos preços do petróleo Brent, que despencou 7,18% em um único pregão.
Esses números mostram o contraste entre o pessimismo que marcou 2024 e o otimismo cauteloso de 2025. Apesar da alta expressiva, a presença de correções diárias reforça a instabilidade.
O agronegócio manteve-se relativamente estável, mas não foi imune às pressões cambiais. O aumento de custos logísticos, associado ao dólar forte, consumiu parte das margens de exportadores de commodities.
Em um ambiente de market timing desafiador e incerto, entender seu perfil de risco é primordial. Quem busca preservar capital deve priorizar ativos de renda fixa pós-fixada, com atrelamento à Selic e inflação, garantindo poder de compra mesmo em cenários adversos.
Para investidores com horizonte mais longo, a combinação de valores atrativos de P/L com disciplina pode gerar ganhos consistentes. A diversificação entre setores e a alocação em fundos multimercado podem reduzir a correlação com o mercado de ações.
Ferramentas de automação, como robôs de investimento e alertas de preço, ajudam a responder rapidamente a choques repentinos, minimizando decisões emocionais em dias turbulentos.
Adotar gestão emocional disciplinada e planejada ajuda a evitar decisões impulsivas. Reconhecer vieses comportamentais e manter um diário de investimentos pode ser um diferencial na construção de resiliência em mercados voláteis.
Tecnicamente, o suporte de 118.685 pontos no Ibovespa é decisivo; se perdido, existe a probabilidade de correção até 102.600 pontos em um movimento puxado pela aversão ao risco. Por outro lado, uma retomada sustentada dependerá de uma combinação de disciplina fiscal, políticas públicas claras e estabilidade institucional.
Em síntese, a bolsa brasileira vive um momento de alta sensibilidade a choques políticos, mas ainda oferece oportunidades para quem entender os ciclos e ajustar sua carteira conforme o risco. Acompanhar reformas, decisões do Banco Central e o ambiente internacional será a chave para navegar nesta maré de oscilações, transformando incertezas em aprendizado e caminhos de crescimento.
Com eleições e definições de políticas públicas no horizonte, cada movimento político ganha peso extra. Por isso, investidores que cultivam paciência e visão de longo prazo estratégica tendem a extrair ganhos mais consistentes, transformando crises em oportunidades de alocação inteligente.
Referências