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Política monetária do Banco Central afeta o apetite por risco

Política monetária do Banco Central afeta o apetite por risco

18/08/2025 - 02:05
Robert Ruan
Política monetária do Banco Central afeta o apetite por risco

Em um cenário econômico volátil, as decisões do Banco Central têm impacto direto no comportamento dos investidores. Este artigo analisa como a definição da taxa Selic e as estratégias de política monetária moldam o apetite por risco no Brasil em 2025, oferecendo uma visão técnica, numérica e prática para gestores e poupadores.

Definição e Objetivos da Política Monetária

A política monetária é o conjunto de medidas adotadas pelo Banco Central do Brasil (BCB) para regular a quantidade de dinheiro em circulação e as condições de crédito na economia. Sua principal meta é a meta de inflação determinada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), mas há objetivos secundários igualmente relevantes.

O sistema de metas de inflação, implementado em 1999, confere transparência e previsibilidade às ações do BCB. Nesse modelo, a autoridade monetária divulga relatórios periódicos e ata das reuniões do Copom, fortalecendo a comunicação com o mercado.

Entre as finalidades complementares estão o estímulo ao crescimento sustentável e o controle de flutuações excessivas no nível de atividade econômica. O BCB busca, assim, garantir o cumprimento das metas estabelecidas e criar um ambiente propício ao investimento de longo prazo.

  • Estabilidade de preços com meta anual clara.
  • Facilitação do pleno emprego.
  • Promoção de crédito responsável e saudável.

Evolução Recente e Decisões do Copom

Entre agosto de 2023 e março de 2024, o Comitê de Política Monetária (Copom) conduziu cortes sucessivos na taxa Selic, reduzindo-a de 13,75% para 10,75% ao ano. Esse movimento de flexibilização visava amenizar o ajuste pós-pandemia e aproximar a inflação do centro da meta de 3%.

Os cortes consecutivos proporcionaram alívio imediato ao crédito imobiliário, impulsionaram financiamentos para automóveis e estimularam o consumo de bens duráveis. No entanto, também elevaram seletivamente o risco de bolhas em segmentos de maior sensibilidade a juros.

No primeiro trimestre de 2025, diante de indicadores de serviços e bens resilientes, além de pressões do câmbio e do preço do petróleo, o Copom optou por elevar a Selic em 1 ponto percentual, fixando-a em 14,25% ao ano. Essa reviravolta demonstra a flexibilidade do Banco Central em ajustar sua estratégia conforme evoluem as condições econômicas.

A alta da taxa reflete preocupações com uma inflação subjacente ainda elevada e riscos de desancoragem das expectativas inflacionárias. Em comparação histórica, remete a momentos de aperto em meados de 2015, quando o Brasil enfrentou forte alta de preços e desaquecimento da atividade.

Projeções Macroeconômicas para 2025

As previsões para 2025 indicam um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em torno de 2,1%, após revisão de 1,9%, refletindo uma recuperação moderada do consumo e investimentos privados.

Em relação à inflação, a expectativa é de uma desaceleração de 5,1% para 4,9%, mantendo-se acima do teto da meta, mas em trajetória descendente. Já o déficit fiscal deve atingir 4% do PIB, influenciado por despesas obrigatórias, juros da dívida e novos programas de assistência social.

Além disso, a expectativa de emissão de títulos públicos, tanto prefixados quanto atrelados ao IPCA, deve crescer para financiar o déficit, pressionando a curva de juros de médio e longo prazos.

O volume de leilões do Tesouro Direto será um indicador-chave para avaliar o quanto o mercado absorve essas emissões sem ocasionar desancoragem nas expectativas de juros.

Relação entre Taxa de Juros e Apetite por Risco

O apetite por risco dos investidores está diretamente vinculado ao nível da Selic e ao diferencial entre taxa real e expectativa de inflação.

Em cenários de juros elevados e liquidez ajustada, a renda fixa oferece retorno atrativo com menor volatilidade, reduzindo o interesse por ativos de maior risco.

Por outro lado, em períodos de afrouxamento, cresce a alavancagem financeira e surgem maiores posições em ações, fundos imobiliários e crédito privado de maior risco, especialmente em títulos corporativos de rating mais baixo.

  • Renda fixa se beneficia de juros elevados e liquidez ajustada.
  • Ações e fundos imobiliários ganham impulso com juros baixos.
  • Sentimento de mercado é influenciado por previsibilidade e transparência.

Pesquisas de confiança empresarial e do consumidor (CNI e FGV) são indicadores adiantados do apetite ao risco, pois refletem expectativas sobre demanda futura.

Instrumentos e Transmissão da Política Monetária

Para executar suas decisões, o BCB conta com diversos instrumentos além da própria taxa Selic, incluindo operações compromissadas, redesconto e depósitos compulsórios.

As operações compromissadas (Compra e Venda de Títulos com compromisso de recompra) são usadas para injetar ou retirar liquidez do sistema em prazos que vão de um dia a alguns meses.

O redesconto bancário atua como um recurso emergencial para instituições que enfrentam escassez de liquidez, enquanto o depósito compulsório regula diretamente a oferta de crédito, exigindo que bancos mantenham percentuais mínimos de recursos no BCB.

  • Operações compromissadas para ajustes de liquidez.
  • Redesconto como instrumento de suporte emergencial.
  • Depósito compulsório para controlar oferta de crédito.

Esses mecanismos compõem um robusto sistema de transmissão, cujo efeito pleno só se concretiza após defasagens que podem ultrapassar um ano.

Riscos, Volatilidade e Comportamento de Mercado

Em cenários de restrição monetária, observam-se picos de volatilidade nos mercados de ações e no câmbio, refletindo a tensão entre oferta e demanda por ativos financeiros.

O índice de volatilidade do Ibovespa (VIX brasileiro) e os spreads dos títulos corporativos em relação aos títulos públicos são termômetros da aversão ao risco. Altas persistentes nesses indicadores sinalizam precaução dos investidores.

Além disso, o fluxo de recursos estrangeiros para o Brasil é muito sensível ao diferencial de juros com economias desenvolvidas e à percepção de risco-país, mensurada pelas agências de rating e pelo EMBI+.

Cenário Regulatório e Integração de Fatores ESG

Nos últimos anos, o BC e o CMN têm ampliado as exigências relativas a práticas socioambientais e de governança. Instituições financeiras precisam agora avaliar questões climáticas, como riscos de transição para uma economia de baixo carbono.

Resoluções recentes incorporam recomendações da Task Force on Climate-related Financial Disclosures (TCFD) e alinham regras a frameworks internacionais, promovendo gestão integrada de riscos que ultrapassa o viés puramente financeiro.

Perspectivas Futuras e Recomendações

As próximas reuniões do Copom poderão sinalizar se a Selic permanecerá em níveis restritivos ou se haverá novo ciclo de cortes, especialmente se a inflação demonstrar queda consistente.

Para investidores, recomenda-se uma carteira balanceada, combinando títulos públicos indexados à inflação, prefixados de longo prazo e posições moderadas em ações de empresas com fundamentos sólidos e baixa alavancagem.

Considerar estratégias de proteção cambial, como fundos cambiais ou derivativos, também pode reduzir a vulnerabilidade a choques externos. A diversificação geográfica e setorial é essencial para reduzir riscos sistêmicos.

Finalmente, a compreensão profunda do ciclo monetário e de suas defasagens permitirá tomar decisões mais embasadas, aproveitando oportunidades em momentos de transição e protegendo capital em fases de aperto monetário.

Robert Ruan

Sobre o Autor: Robert Ruan

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