Em um cenário econômico volátil, as decisões do Banco Central têm impacto direto no comportamento dos investidores. Este artigo analisa como a definição da taxa Selic e as estratégias de política monetária moldam o apetite por risco no Brasil em 2025, oferecendo uma visão técnica, numérica e prática para gestores e poupadores.
A política monetária é o conjunto de medidas adotadas pelo Banco Central do Brasil (BCB) para regular a quantidade de dinheiro em circulação e as condições de crédito na economia. Sua principal meta é a meta de inflação determinada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), mas há objetivos secundários igualmente relevantes.
O sistema de metas de inflação, implementado em 1999, confere transparência e previsibilidade às ações do BCB. Nesse modelo, a autoridade monetária divulga relatórios periódicos e ata das reuniões do Copom, fortalecendo a comunicação com o mercado.
Entre as finalidades complementares estão o estímulo ao crescimento sustentável e o controle de flutuações excessivas no nível de atividade econômica. O BCB busca, assim, garantir o cumprimento das metas estabelecidas e criar um ambiente propício ao investimento de longo prazo.
Entre agosto de 2023 e março de 2024, o Comitê de Política Monetária (Copom) conduziu cortes sucessivos na taxa Selic, reduzindo-a de 13,75% para 10,75% ao ano. Esse movimento de flexibilização visava amenizar o ajuste pós-pandemia e aproximar a inflação do centro da meta de 3%.
Os cortes consecutivos proporcionaram alívio imediato ao crédito imobiliário, impulsionaram financiamentos para automóveis e estimularam o consumo de bens duráveis. No entanto, também elevaram seletivamente o risco de bolhas em segmentos de maior sensibilidade a juros.
No primeiro trimestre de 2025, diante de indicadores de serviços e bens resilientes, além de pressões do câmbio e do preço do petróleo, o Copom optou por elevar a Selic em 1 ponto percentual, fixando-a em 14,25% ao ano. Essa reviravolta demonstra a flexibilidade do Banco Central em ajustar sua estratégia conforme evoluem as condições econômicas.
A alta da taxa reflete preocupações com uma inflação subjacente ainda elevada e riscos de desancoragem das expectativas inflacionárias. Em comparação histórica, remete a momentos de aperto em meados de 2015, quando o Brasil enfrentou forte alta de preços e desaquecimento da atividade.
As previsões para 2025 indicam um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em torno de 2,1%, após revisão de 1,9%, refletindo uma recuperação moderada do consumo e investimentos privados.
Em relação à inflação, a expectativa é de uma desaceleração de 5,1% para 4,9%, mantendo-se acima do teto da meta, mas em trajetória descendente. Já o déficit fiscal deve atingir 4% do PIB, influenciado por despesas obrigatórias, juros da dívida e novos programas de assistência social.
Além disso, a expectativa de emissão de títulos públicos, tanto prefixados quanto atrelados ao IPCA, deve crescer para financiar o déficit, pressionando a curva de juros de médio e longo prazos.
O volume de leilões do Tesouro Direto será um indicador-chave para avaliar o quanto o mercado absorve essas emissões sem ocasionar desancoragem nas expectativas de juros.
O apetite por risco dos investidores está diretamente vinculado ao nível da Selic e ao diferencial entre taxa real e expectativa de inflação.
Em cenários de juros elevados e liquidez ajustada, a renda fixa oferece retorno atrativo com menor volatilidade, reduzindo o interesse por ativos de maior risco.
Por outro lado, em períodos de afrouxamento, cresce a alavancagem financeira e surgem maiores posições em ações, fundos imobiliários e crédito privado de maior risco, especialmente em títulos corporativos de rating mais baixo.
Pesquisas de confiança empresarial e do consumidor (CNI e FGV) são indicadores adiantados do apetite ao risco, pois refletem expectativas sobre demanda futura.
Para executar suas decisões, o BCB conta com diversos instrumentos além da própria taxa Selic, incluindo operações compromissadas, redesconto e depósitos compulsórios.
As operações compromissadas (Compra e Venda de Títulos com compromisso de recompra) são usadas para injetar ou retirar liquidez do sistema em prazos que vão de um dia a alguns meses.
O redesconto bancário atua como um recurso emergencial para instituições que enfrentam escassez de liquidez, enquanto o depósito compulsório regula diretamente a oferta de crédito, exigindo que bancos mantenham percentuais mínimos de recursos no BCB.
Esses mecanismos compõem um robusto sistema de transmissão, cujo efeito pleno só se concretiza após defasagens que podem ultrapassar um ano.
Em cenários de restrição monetária, observam-se picos de volatilidade nos mercados de ações e no câmbio, refletindo a tensão entre oferta e demanda por ativos financeiros.
O índice de volatilidade do Ibovespa (VIX brasileiro) e os spreads dos títulos corporativos em relação aos títulos públicos são termômetros da aversão ao risco. Altas persistentes nesses indicadores sinalizam precaução dos investidores.
Além disso, o fluxo de recursos estrangeiros para o Brasil é muito sensível ao diferencial de juros com economias desenvolvidas e à percepção de risco-país, mensurada pelas agências de rating e pelo EMBI+.
Nos últimos anos, o BC e o CMN têm ampliado as exigências relativas a práticas socioambientais e de governança. Instituições financeiras precisam agora avaliar questões climáticas, como riscos de transição para uma economia de baixo carbono.
Resoluções recentes incorporam recomendações da Task Force on Climate-related Financial Disclosures (TCFD) e alinham regras a frameworks internacionais, promovendo gestão integrada de riscos que ultrapassa o viés puramente financeiro.
As próximas reuniões do Copom poderão sinalizar se a Selic permanecerá em níveis restritivos ou se haverá novo ciclo de cortes, especialmente se a inflação demonstrar queda consistente.
Para investidores, recomenda-se uma carteira balanceada, combinando títulos públicos indexados à inflação, prefixados de longo prazo e posições moderadas em ações de empresas com fundamentos sólidos e baixa alavancagem.
Considerar estratégias de proteção cambial, como fundos cambiais ou derivativos, também pode reduzir a vulnerabilidade a choques externos. A diversificação geográfica e setorial é essencial para reduzir riscos sistêmicos.
Finalmente, a compreensão profunda do ciclo monetário e de suas defasagens permitirá tomar decisões mais embasadas, aproveitando oportunidades em momentos de transição e protegendo capital em fases de aperto monetário.