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Setores defensivos atraem fluxo em cenários incertos

Setores defensivos atraem fluxo em cenários incertos

30/08/2025 - 11:59
Marcos Vinicius
Setores defensivos atraem fluxo em cenários incertos

O agronegócio brasileiro vive um momento de grande incerteza macroeconômica, com câmbio volátil, preços pressionados e custos em alta. Mesmo assim, os setores defensivos agrícolas mantêm sua relevância, atraindo investimentos e movimentando bilhões de hectares de aplicação. Este artigo analisa como esse segmento se comporta em 2024/2025, destacando números, tendências, desafios e oportunidades regionais.

O caráter defensivo em tempos desafiadores

Conhecido por sua resiliência em períodos de volatilidade cambial, o segmento de defensivos agrícolas se firma como um porto seguro para investidores e produtores. Ainda que as margens estejam comprimidas, o volume aplicado cresce, sustentado pela expansão da área plantada e pela necessidade constante de controle de pragas e doenças.

De acordo com projeções da Croplife e Sindiveg, o mercado de defensivos deve alcançar um crescimento entre 3% e 6% em 2025, com a área tratada ultrapassando 2 bilhões de hectares ao longo do ano. No primeiro trimestre, esse patamar já alcançou 831 milhões de hectares, um avanço de 1,8% frente a igual período de 2024.

Expansão física vs. queda de faturamento

O grande paradoxo do setor em 2024/2025 é a **expansão física** dos volumes aplicada em contraponto à **queda do faturamento**. Em 2024, a área tratada cresceu 12,2%, atingindo 2,5 bilhões de hectares, mas o faturamento acumulado caiu 6,6%, fechando em US$ 19,9 bilhões. No primeiro trimestre de 2025, a retração foi ainda mais acentuada, com faturamento de US$ 6,6 bilhões, queda de 11,1% em relação ao mesmo período do ano anterior.

Embora a soja (55%) e o milho (17%) liderem a participação de área, em volume aplicado o milho assume 36% e a soja 35%, seguidos pelo algodão com 13%. Esse desequilíbrio sinaliza um mercado ainda muito dependente das grandes commodities.

Bioinsumos: o novo motor de crescimento

Em meio ao cenário de preços em baixa e custos elevados, bioinsumos devem crescer 13% em 2025, atingindo 155 milhões de hectares tratados. Esse segmento tem ganhado força graças à demanda por práticas mais sustentáveis e ao desenvolvimento de tecnologias inovadoras, que prometem menor impacto ambiental.

Ainda que representem apenas 7% do volume total atualmente, os bioinsumos apresentam uma curva de ascensão mais acentuada que os produtos químicos convencionais. A expectativa é que esses insumos ganhem participação gradual, impulsionados pela pressão regulatória e pelas exigências dos mercados internacionais.

Principais fatores de risco e desafios

  • Pressão sobre preços dos defensivos: redução de margens e necessidade de negociação constante.
  • Desvalorização do real frente ao dólar: encarece insumos importados e afeta o custo final ao produtor.
  • Custos elevados de matéria-prima, especialmente derivados de petróleo.
  • Atrasos logísticos e gargalos de infraestrutura prejudicam a entrega oportuna.
  • Concorrência crescente de novos entrantes e soluções digitais.

Sazonalidade e momentos de pico

A distribuição anual das aplicações é marcada por dois períodos de grande intensidade. O primeiro trimestre concentra 48% do volume aplicado, época de plantio de soja e milho, enquanto o quarto trimestre responde por 34%, período de aplicação em culturas de inverno e cana-de-açúcar.

Compreender essas janelas é essencial para planejar estoques e logística, garantindo fornecimento e evitando rupturas que possam comprometer a produtividade dos cultivos.

Estratégias e oportunidades regionais

  • Produtores priorizam eficiência nas compras, buscando renegociar contratos e utilizar tecnologias de aplicação de precisão.
  • O mercado de biológicos cresce em regiões com forte demanda por sustentabilidade, como São Paulo e Minas Gerais.
  • Mato Grosso e Rondônia lideram com 37% de participação no primeiro trimestre de 2025.
  • O Matopiba (BA, MA, TO, PI, PA) responde por 16%, apresentando dinâmica de expansão.

Perspectivas para 2025 e além

O setor de defensivos agrícolas permanece vital para a segurança alimentar e as exportações brasileiras. Enquanto o crescimento físico segue firme, a necessidade de inovação e gestão de custos se intensifica. A adoção de bioinsumos e tecnologias digitais deve acelerar, equilibrando produtividade e sustentabilidade.

Mesmo diante de incertezas cambiais e pressões de mercado, o fluxo de recursos para esse segmento tende a se manter estável, sustentado pela constante expansão da área plantada e pela capacidade de adaptação dos produtores. O futuro aponta para um equilíbrio entre volume, valor e responsabilidade socioambiental, garantindo que os setores defensivos continuem atraindo investimentos em cenários incertos.

Marcos Vinicius

Sobre o Autor: Marcos Vinicius

Marcos Vinicius